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TER QUE AUTORIZAR BIOGRAFIAS EQUIVALE À CENSURA

O assunto biografia está na ordem do dia. E o que dizer dos diários do cardeal pró-nazismo Michael Faulhaber, falecido em 1952, que permaneceram escondidos até 2010? Debaixo da cama de seu último secretário, o prelado Johannes Waxenberger, cuja morte nesse ano trouxe à tona registros de conversas e milhares de contatos do cardeal, quando ocupou a sede episcopal de Munique durante o período nazista. Ele chegou a exaltar a providência divina, que teria salvado Hitler do famoso atentado em 1939 em plena Alemanha contaminada pelo regime de terror. No entanto, fez o papel de agente duplo como principal fonte de informações ao Papa Pio XII, em 1937, sobre a pressão na Igreja alemã levada a efeito pelos cães nazistas. Amparadas pela postura de abertura do Papa Francisco e por sua política de aumentar a transparência da Igreja, diversas organizações sociais têm exigido a reparação da Igreja sobre sua atuação em épocas chaves da História, como as barbaridades do franquismo e da Guerra Civil espanhola. Até bem pouco tempo, o Pontificado defendia sua privacidade e o sigilo dessas informações em nome do zelo pela secular instituição. Os representantes e defensores da ditadura militar no Brasil também querem manter a cabeça enterrada no chão, impedindo que se escrevam biografias sobre o sanguinário General Médici e o Coronel Brilhante Ustra, o torturador exemplar. Ter que autorizar biografias é censurar. É proibido proibir! Liberou geral! Quem não deve, não teme. Se querem preservar sua intimidade, é porque têm algo a esconder – não se trata só de privacidade. Vivemos uma época de avassaladores vazamentos de segredos de Estado pontuados pelo universo virtual que tomou conta de nossos lares e obriga a nos expor, mesmo se encerrados em nosso quarto. Pretender se opor a essa realidade irreversível, é dar uma de avestruz, é conservadorismo xiita, atraso mental, é convidar o Mal de Alzheimer a nos abraçar para esquecermos de nossas vivências. Se um dia vamos ser julgados de qualquer forma, por que não começar por mentes terrenas e estreitas, sujeitas a erros grosseiros? Se é para ir se preparando, chega a ser um privilégio. Necessitamos de mais psicanálise sobre nossas existências, mesmo que chinfrins, para melhor compreender a alma humana. O porquê de provocarmos tanta desgraceira em nossas vidas privadas. Ou é exagero? Deixe que cada um leia e decida.

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Antonio Carlos Gaio
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