Se Villa-Lobos tem uma obra importantíssima composta no século XX, não só para violão ou piano como para orquestra, e se a qualidade é no nível beethoveniano, por que não é ouvida com mais frequência? Tocam-se sempre as mesmas Bachianas, Choros e Cirandas. Alega-se dificuldade de execução das obras, que exigem muita preparação; e do músico, rigor rítmico e senso de estrutura. A superposição de divisões rítmicas contrastantes – as polirritmias – não deixa margem a que usem de truques para superar as dificuldades – o resultado não fica bom. O forte nele são os temas, onde se costuma confundir a extrema e rica diversidade com colcha de retalhos, enquanto julgam as sinfonias com material folclórico populares demais e sem rigor, quando exalam o lirismo notório das raízes brasileiras nunca dantes captado. Sonia Rubinsky, pianista brasileira que fez jus ao Grammy Latino de música clássica, fruto de sua dedicação ao compositor nos últimos 15 anos, manuseou partituras cheias de erros que ratificam seu trabalho de mouro, sem se deter nas imperfeições da criação, compondo e regendo músicas conforme lhe iam saindo pelos ouvidos. Na maior perfeição e sintonia com o Divino.