As vicissitudes da vida corporal podem funcionar ao mesmo tempo como expiação por erros cometidos em vida passada, assim como obstáculos a serem ultrapassados na construção de sua vida futura, de forma a permitir a evolução – o grande objetivo. As provações nos depuram e nos elevam conforme nós as encaramos e sofremos em consequência de sua ação. Procurando na resignação encontrar um caminho que evite a reclamação a esmo e descontrolada, detendo a recriminação ou a censura de seus atos, ou mesmo a contínua repreensão em voz baixa.
O Espírito é sempre chamado a decidir em qual corpo (em quem) reencarnará, salvo Deus, que sabe de antemão que alma se unirá àquele corpo. O critério de escolha do Espírito será condicionado às provações que deve sofrer o levarem a evoluir, a avançar conforme as imperfeições forem sendo vencidas. Há que ter conhecimento de causa antes de entrar no corpo por ocasião de seu nascimento para que a rendição à escravidão da matéria não se torne um martírio. É como um viajante que embarca numa travessia perigosa e que não desconhece os perigos a que se expõe e que encontrará a morte nas ondas de um mar revolto que irá enfrentar, o que não significa que naufragará. Ele tem noção antecipadamente do gênero de provações às quais se submeterá, mas ele não sabe se sucumbirá.
O mal oriundo de preferências menos dignas tem de ser pacientemente examinado antes de destruído de pronto. Pois o joio surge em meio à atividade incessante e intensa, ameaçando a colheita do trigo. Mas o homem comum ainda não dispõe de visão adequada para identificar a obra renovadora, anda a passo de cágado e constantemente perde a esperança na vitória final do Bem, ao se distanciar de ternas responsabilidades que falem ao coração.
Contudo, há males que parecem se direcionar para atingir o homem como se fosse uma fatalidade. A perda de seres queridos e dos que sustentam a família. Os acidentes, as calamidades naturais e os reveses da vida, tornando inútil toda cautela ou prudência. As enfermidades de nascença, as deformidades, a idiotia, o cretinismo, que tira a tantos infelizes os meios de ganhar a vida. Não fizeram nada nesta vida para merecer um destino tão triste e sem reparação, que não puderam evitar, impossibilitados de mudarem por si próprios e que os expõe à caridade pública. Problemas que nenhuma religião pode justificar e que instigam a negação da bondade e da justiça de Deus.
Essas misérias humanas são o efeito que deve ter uma causa. Como a causa vem sempre antes do efeito, se não se vincula à vida atual, é porque se localiza numa existência anterior. Evidenciando a lógica da justiça de Deus.
O homem nunca escapa das consequências de suas faltas.