Não é por outra razão que trememos de medo antes de partir desse mundo. Olhamos para trás, para toda a jornada, pros cumes das montanhas ao nosso redor, para praias que outrora exploramos, enveredando por longos caminhos sinuosos que se embrenhavam por falésias ou florestas, quando não davam em povoados toscos perdidos em confins matusalêmicos.
Contudo, ninguém pode voltar.
Se agora vemos à frente um território tão vasto, a perder de vista, meio encoberto por uma bruma que visa a nos preparar pouco a pouco, acostumando-nos com a nova visão que passaremos a incorporar. Entrar nesse Universo é nada mais do que desaparecer fisicamente. Pois não há como voltar. Como contornar o que é irreversível. Os discursos caíram no vazio. A filosofia, vã! Depende, nesse instante, da realidade espiritual.
Voltar à existência é impossível. Você pode apenas ir em frente. É para frente que se anda e se progride. Olhar para trás é regredir, salvo como despedida. Ainda assim, a maldição de Sodoma e Gomorra transformou em pedra quem ousou olhar para trás. Por arfar de nostalgia do pecado e não conseguir se desapegar.
Somos como um rio que tem de desembocar no oceano, forçosamente. Mesmo que através de outros, aceitando seu papel secundário mas igualmente importante como afluente, que ajuda a manter fluido os vasos comunicantes.
É preciso se arriscar e entranhar-se no oceano. Somente quando você entra no oceano e se amalgama ao meio ambiente é que o medo desaparece. Porque tão somente saberá que não se trata de apagar sua identidade ou pulverizar seu ego ao se misturar ao oceano. Mas sim tornar-se oceano.
Assim somos nós. O desaparecimento com a morte e o renascimento com o espírito.