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TROVÃO

Os dias passam como um raio
e não sei por que raios vim parar aqui.
É muito trovão pra pouca chuva,
muitas curvas para tão curta distância.
Muita inconstância constante.
O que foi que aconteceu antes
dessa tempestade
que não cabe nem na minha saudade?
Como o clima pôde mudar tanto?
Quanto pranto do céu
molhou essa terra sob meus pés?
Já não tenho papéis, 
mas mesmo assim escrevo.
Não tenho amor, nem fé, 
nem muito menos medo.
Mas bebo desse temporal 
que me alaga
e como tudo que vejo
como uma draga.
Minha adaga é a poesia,
que rasga a pele macia
da conveniência.
A paciência foi por água abaixo
e eu moro morro acima.
Eu nem mais choro, mas corro.
Não mais imploro, nem morro.
Apenas sobrevivo ao dilúvio.
Só vivo.
E quem disser que não me viu
é porque fui por ali,
embalada na nuvem, 
de carona com o raio.
Não caio mais no chão,
mas se quiser ouvir minha voz,
é só ficar atento ao vento
e ouvir a poesia no trovão.

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Antonio Carlos Gaio
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