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TUDO, MENOS ABÓBORA

Duas personalidades que se encaixam na mesma mulher.
Uma paixão do tamanho da loucura de uma pisciana que faz o que quer… e não segura sua onda. Mas esvoaça, vem até você que nem beija-flor, não canta porque de belo já basta as asas em contínuo movimento. Mas não é correspondida. Por isso, constrói um muro em torno de sua casa, alegando medo de assaltantes. Quer distância, sobretudo de mulheres que só se fascinam com amor bandido. No lugar, sentir-se querida, abraçada em laços de ternura que se comprimem numa aliança para fazer história. Mas o que mais teme é terminar sua vida sozinha. Isso a deprime, tortura e dilacera sua alma. O que provoca surtos irrelevantes, alergias desalmadas e doenças que sinalizam um caminho sem volta. O de não ter dado conta da vida.
A outra personalidade, leonina. O mundo gira em torno do seu umbigo, tal o narcisismo que faz seu ego se multiplicar em mil faces. A estratégia na arte da guerra a salva pelo gongo, mas põe tudo a perder quando a sutileza na sedução transparece arrogância, supor-se melhor e mais bonita. Por querer ver os holofotes projetados no seu foco. Com forte tendência de regredir ao departamento infanto-juvenil ou ao estágio de menina-moça. Incapaz de se questionar, por ver na sua imagem refletida no espelho a leoa soberana no reino do leão. Se brilha o tempo todo é porque não há nada de errado, ao contrário, tem o poder até de ofuscar. É o momento do anticlímax, em que é agradável de conversar até a página 7. Virada a folha, namora a frivolidade, marca bobeira, torna-se um tanto autista, ao não mais fazer contato com o outro. Tem que destoar brilhando, pois se sabe de bem com a vida, de alegria borbulhante e com o orgulho de ser o que é. Imersa na feliz ignorância de que o planeta Terra oferece um montão de atrações independente do que tem a proporcionar.
Personas que brigam contra o alucinante avanço das horas no relógio do tempo, apavoradas com as badaladas da meia-noite, virar abóbora nem pensar, não está no seu programa. Desdenham de príncipes encantados – ou seria descrer? Se esgoelam, puxam o cabelo e unham o seu próprio eu, numa disputa infernal em que o homem tem o seu lugar de honra reservado. Para assistir e não se meter.

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Antonio Carlos Gaio
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