Tudo começa, em termos de processo civilizatório, com os gregos, apesar de os judeus serem um povo mais antigo, e com suas cabalas haver muito mais por ser revelado, embora a mitologia grega não fique nem um pouco atrás.
Para os gregos, o destino seria uma fatalidade, a despeito de se valerem de um rosário de deuses para explicar como os humanos se comportam, sendo a mitologia sua verdadeira e sábia religião. No entanto para nós, mortais, o poema da vida terminaria no desespero e na irreversibilidade da morte, que ceifaria com toda a história da vida.
Aliás, de conformidade com os padrões ateus que viriam a se cristalizar depois do Iluminismo, por volta do século XIX, até em reação ao regime de terror imposto pela Inquisição, ao trabalho escravo sempre presente na civilização e ao genocídio de povos nativos que iam perdendo seu habitat para os conquistadores. Padrões ateus que se bastam com a morte para tirar por completo o sentido de existência. Pois se é assim, a vida seria uma aventura amaldiçoada. Não se conseguiria conviver com a visão amarga, embrutecida, atormentada e sangrenta do mundo.
Portanto, o problema filosófico mais grave da Humanidade seria o suicídio, segundo o grande escritor franco-argelino Albert Camus. Tão grave que a pessoa avalia o mundo, avalia a si própria, acha que não vale a pena e se suicida.
Quando o mal do mundo é o sofrimento humano. E essa é a questão mais séria que os ateus demandam às pessoas que acreditam em Deus:
– E se eu Lhe perguntasse por que sofremos tanto quando aqui nascemos? Por que será que Ele não fez a gente dentro de outros moldes, sem precisar correr para nos sustentarmos e sobrevivermos, sujeitos a tanta decepção amorosa? Por que existem uns felizes e outros que sofrem tanto, oriundos até da mesma família, senão criados do mesmo jeito?
Como se Deus tivesse errado na mão e incorrido num tremendo equívoco, infligindo um sofrimento terrível ao ser humano.
É tudo o que tem por ser vencido em nossa existência. Até por uma questão de necessidade, pois basta surgir a morte de supetão para ameaçar qualquer sentido que se dê à existência, urgindo nos anteciparmos à questão se a vida faz sentido. Se faz, é porque existe Deus e uma Lei que cuida de todos. Se não faz, é um desespero só, ainda mais à medida que sua hora se aproxima, sem precisar quando o óbito ocorrerá, não dependendo de você desligar a máquina. A não ser que violente sua natureza e se suicide, chamando para si um sofrimento que lembra o inferno.
Melhor do que imergir no obscurantismo das incertezas é tornar-se consciente sobre tudo o que existe por ser vencido em nossa existência, permitindo que o Todo entre em sua vida e o abrace, com sua compreensão desmedida.