O dramaturgo e diretor francês Bernard-Marie Koltès, falecido aos 41 anos, tentou escrever a peça “O retorno ao deserto” com os olhos da idade entre os 12 e os 16. Quantas coisas importantes deixamos para trás nesse interstício em face da necessidade de ter de crescer e se preparar convenientemente para o futuro! Estudando o que não interessa, mas que proporciona substância e, ao mesmo tempo, o desvia de sua verdadeira vocação. Talento esse sempre medido pelo se haverá retorno em vil metal. Caso contrário, não lhe renderá um futuro promissor. Sem contar a fama de vagabundo e de que não quer dar duro no batente rondando sua honorabilidade. E aquilo fica na sua cabeça, remoendo seu espírito criativo, a atazanar sua paciência com tédio, inadaptação ao meio, insatisfação e surtos de irritação e agressividade. Mas as ideias não morrem; ficam numa incubadora aguardando o tempo certo para aflorarem e darem seu fruto. É quando o vulcão entra em erupção e recupera o tempo perdido, se medido pelo prazer que substituiu o ser carente ao se integrar ao mundo, que passou a ver com outros olhos. O ímpeto e o vigor são os mesmos de quem, dos 12 aos 16 anos, se lançava sobre a brasa de pés descalços, sem medo de enfrentar a crítica, na certeza de ser o dono de seu destino. A voracidade não é estranha para quem já perdeu tempo demasiado com o que não valia a pena. Um banho de sal grosso para limpar sua mente do entulho que bloqueava sua visão foi na conta certa para quebrar suas resistências e vencer seus receios quanto a não ser ouvido ou a zoar que nem abelha no afã de encontrar o pouso certo. Dos 12 aos 16, os melhores anos de sua vida. Fará falta se não aproveitar.
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