A menos de 70 km da zona devastada pelo terremoto, em pleno Haiti, turbas de turistas se divertem no paradisíaco pedaço da ilha alugado pelo governo a uma empresa americana, para onde acorrem cruzeiros luxuosos a fim de relaxar passageiros com passeios de jet-ski, inúmeros coquetéis e compra de suvenires em praias particulares, no entorno do resort Labadee. Garantido por fortes homens armados, enquanto o desespero e a destruição tomam conta de Porto Príncipe, a capital, em busca de água, comida, médicos, de um banheiro em condições. O que não impede os turistas de se fartarem de camarões e lagostas, encherem a cara com caipirinhas e pegarem uma vermelhidão no meio dos córneos, se estão gozando de merecidas férias e precisam aproveitar a excursão programada ano passado. Se há dezenas de milhares de corpos empilhados à espera de serem enterrados e sobreviventes com fome, perdidos nas ruas, não serão os zumbis que tirarão o sono de porcos que roncam de satisfação. Ninguém está livre de virar carniça de urubu.