Cheguei a um ponto tonto
Em que tudo a mim parece
Que já foi dito e escrito
E até os gritos se calaram
Evaporaram do meu peito
Sei que ainda estou nova
E não sou prosa
Ainda tenho muito a aprender
A viver e a contribuir
Mas é que olhando daqui
De dentro
Tudo me soa como um lamento distante
Um fado irritante
De sofrimento contínuo
Fardo longilíneo
Ao mesmo tempo em que
Sinto uma liberdade enorme
De acreditar que posso criar o que quiser
Que basta escolher o que nutrir
E perseguir com fé
Parece que tenho a certeza
De que nada adianta
Porque outros já fizeram
E eu não estou preparada
Nem nunca vou estar
Como se escolher o que fazer fosse inútil
E não saio do lugar
Nada mais me assusta
Diante de tantas atrocidades
Nada mais me custa tanto
Quanto esta falta de espanto
E de novidade
Já diria a Flavinha, querida poeta
É preciso espanto
E eu que já vivi tanto
Não me encanto, nem me choco
Apenas não me importo
E continuo lendo e escrevendo
Reescrevendo os meus desencantos
Como num longo e enfadonho canto
De quem já quase perdeu a voz de tanto pranto
Só quase