Dirigir um carro no Natal com o celular na pata e recortando de um lado pro outro uma via expressa, a ultrapassar Deus e o mundo, é fazer jus às despedidas do que existe de melhor: viver em alta velocidade. E despertar como espírito e assassino, com as vítimas ao seu redor, quando não bebês em seu colo, num cenário de escombros fumegantes. Sem atirar e esfaquear ninguém, apenas transformou o veículo em arma e transporte para o Além. Perdendo o gosto açucarado das rabanadas, com saudades das castanhas, tomando a feição de lascas de bacalhau, somente lhe restando contemplar, de longe, o peru de Natal, intocado e respingado pelas lágrimas de parentes e amigos. Que desperdício não mais destrinchar o peru molhado em época de fartura, se ao menos pudesse cair de boca! Também quem manda, viajou dessa pra melhor com bilhete sem volta.
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