Tudo estava concorrendo para a noite do Oscar 2017 interromper o contínuo desmerecimento da cinematografia afrodescendente em anos anteriores com os prêmios de melhor ator (Mahershala Ali) e atriz (Viola Davis) coadjuvantes; melhor roteiro adaptado (“Moonlight”, de peça nunca encenada) de Barry Jenkins e Tarell McCraney; melhor longa documentário (“O.J. Simpson: made in America”) de Ezra Edelman, quando o Oscar de melhor ator não foi para o deslumbrante Denzel Washington (“Um limite entre nós”) e direcionado para Casey Affleck no excelente “Manchester à beira-mar”, cujo desempenho elogiosamente sofrido diante da tragédia que se abateu sobre ele no filme, virou uma performance sem nuances – um mau presságio. Até que “La la Land”, anunciado como o melhor filme, não causara maior estranheza a não ser por Warren Beatty e Faye Dunaway, o casal hoje idoso de “Bonnie e Clyde”, se confundirem com o conteúdo do envelope. Com o que poderia ser? Ou estariam brincando logo numa hora dessas? Quando, em dois ou três minutos, em meio ao regozijo, alegria e agradecimentos dos produtores de “La la Land”, descobriu-se que o envelope, declarando a vitória de “Moonlight”, fora trocado. Pensou-se que a culpa fora do casal esclerosado. Não, não e não, foi da mundialmente famosa empresa de auditoria, Price Waterhouse, que, responsável por manter sigilo sobre quem seria premiado, acabou proporcionando a maior mancada (ou seria cagada?) de todos os tempos do Oscar. E ainda há quem considere a terceirização a solução para todos os problemas de gestão – é porque não assistiram a “Eu, Daniel Blake”. Meteram numa bela enrascada as equipes dos dois filmes, Warren Beatty e Faye Dunaway e, principalmente, a organização do evento, que perdeu toda a credibilidade com tão primário erro, também ocorrido no concurso de Miss Universo, organizado pelas empresas de Donald Trump. Os Estados Unidos não são mais os mesmos e a recuperação da autoestima dos afrodescendentes ainda está sujeita a enfrentar percalços que os impede de relaxar e que chegam a revoltar a quem tem um mínimo de sensibilidade. A propósito, para que ninguém se atrapalhe, o melhor filme foi “Moonlight”.