Tem cabimento um casal encomendar uma inseminação artificial e abandonar um dos bebês só porque vieram três ao invés de dois, conforme previsto pelo médico? Escolhendo as meninas mais saudáveis e desprezando a que nasceu com problemas respiratórios? Obrigando a clínica a avisar ao Ministério Público, que tirou a guarda das trigêmeas dos pais, obrigando-os a contratar uma advogada a propósito de alegar que a mãe sofreu uma depressão pós-parto. Quem, abalada emocionalmente no estado puerperal, não pode se equivocar e rejeitar uma criança que acabou de vir ao mundo? Não é difícil arrumar um laudo de um psiquiatra, atestando que os pais não são esses monstros, para refutar a condenação sumária da população indignada. As trigêmeas precisam dessa mãe para amamentá-las. O terceiro berço foi comprado às pressas para mostrar que os responsáveis estão arrependidos. Os avós garantem que a devolução será em nome de uma boa causa, em virtude de o distanciamento dos pais ser muito mais prejudicial. Uma rejeição que entrará para os anais da história dos pais, objeto de futuro questionamento por parte da filha negada: “O que é que eu fiz para merecer tamanho repúdio?”