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UMA QUESTÃO DE FÉ

O filósofo Márcio Tavares D’Amaral desafiou para um duelo os experts pensadores do meio acadêmico e fez Deus ressuscitar em contraposição à adoração da filosofia, desde o século XIX, à imagem e semelhança do pensamento de Friedrich Nietzche, restando à pós-modernidade apenas a tarefa de sepultar Deus. Anuncia em alto e bom som, ao melhor estilo da abertura de uma ópera, para o pensamento além do que os olhos podem enxergar nesse mundo tecnologizado e acelerado de hoje. É através do horizonte azul que ele deposita sua fé na Religião, apoiado na máxima de que “todo sistema de pensamento é, na verdade, baseado em um conjunto de verdades, no qual se crê” – a um passo da sedutora convicção – “e a religião é o sistema em que é a própria verdade”.
Ao navegarmos em meio ao campus universitário, nos encontramos numa concha dominada pelo cientificismo, pelas ciências exatas, biológicas e da computação, cujo eco realça o lugar-comum de que a Religião nada mais é que uma chuva de dogmas irracionais aos quais não se vende fiado. Ora, se a Filosofia e a História mal conseguem dar conta do que se está desenrolando no presente momento, significando um processo falimentar nos fundamentos, na valoração moral, e, portanto, na verdade, sem mais conseguir explicar as causas, como não pensar e se espantar diante de evidências de que cada vez mais conseqüências são geradas em resposta à preocupação letal concernente à tecnologia e ao estímulo da informação, invalidando a passos largos o pai e mãe natural que adotamos no breve corte do cordão umbilical.
O mecanismo do pensamento é acionado a partir de um sapateado de crenças de valores como que a exigir que “não quero discussão”. Nem disfarça, toma partido xiita desses valores, uma adesão incondicional que não convém ser questionada. Em assim sendo, por que não a religião, se a fé é um crédito a perder de vista sem a exigência da reciprocidade natural a um casamento?
A natureza da adesão de todo o sistema de pensamento, no ardor do entusiasmo, transcende a uma confiança absoluta, sem par, por ser real em si mesma, e determina a sua própria imersão num rosário de idéias com as quais você se identifica, e até relaxa, aquecido pela certeza da iluminação que alarga o saber. O que é isso senão Religião?
E o que é a Ciência senão um conjunto de injunções e equações para demonstrar o que os cientistas consideram como verdade? Desde o Iluminismo, elegeram como seu inimigo as religiões, associadas desde os primórdios a aristocracias bastardas, governos corruptos e ideologias escravagistas. De um tempo em que o poder sacerdotal e o poder do império haviam se comprometido em um casamento indissolúvel. Que fez miséria. Ao banirem conclusões não demonstradas, sobretudo a respeito de moral e ética, optaram pelo conhecimento adquirido somente pela razão, o culto ao agnóstico.
D’Amaral não se preocupa em lhe atribuírem casuísmo ou adoção a uma causa própria, se peculiar os dramas de uma pequena aldeia, quando universalizados em filme ou livro, nos tornamos parentes de sua história.
Vivemos em uma época que ainda se recusa a pensar em termos holísticos, em que a sua porção encerre um todo que o dignifica, aumente sua auto-estima e eleve sua crença, dessa forma, juntaríamos as partes com o significado ampliado e atingiríamos uma totalidade completamente distinta da globalização, que implica em hegemonia e pasteurização. Posto assim, seremos capazes de reencontrar totalidades que recuperem e restabeleçam o nosso lugar de origem, palavras de D’Amaral.
A intolerância dos agnósticos faz com que não consigam discutir racionalmente com os crentes de espírito, por exigirem provas materiais de que os milagres existem, apenas vêem a barbárie perpetrada no ceticismo disseminado. Deixam claro uma crença dogmaticamente oposta de que Deus não existe, inimaginável alguém realizar essa proeza lógica ou ilógica do Universo.
Mas, se demonstrar a existência de qualquer fenômeno, insignificante que seja, já é deveras complexo, imagine demonstrar a inexistência de algo totalmente impossível.
É impossível, e em assim sendo, um princípio dogmático absoluto que faz do agnosticismo um artigo de fé.

Antonio Carlos Gaio:
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