Estive na abertura do “Queermuseu”, sábado 18 de agosto, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, sob acusações de promover pedofilia, zoofilia e blasfêmia. Um dos maiores eventos artísticos de que já se teve notícia no Rio de Janeiro, um conjunto de trabalhos de encher os olhos e de altíssimo gabarito, uma verdadeira vanguarda capitaneada por Gaudêncio Fidélis. A mostra de 223 obras e 84 artistas havia sido cancelada – não seria interditada? – em Porto Alegre e vetada pelo obscurantista prefeito Crivella do Rio de Janeiro, cuja estupidez humana que grassa no Brasil, calcada no Congresso no dia do impeachment de Dilma, fez jus a uma reação da classe artística que resultou num financiamento coletivo recorde, e que permitiu vencer o fascismo ora reinante no Brasil dos golpistas. Quando basta não frequentar, se julgar a exposição ofensiva aos seus limitados recursos de avaliar a arte, não sendo preciso censurar, impedir e destruir o direito de ver segundo uma moral canhestra. De que adianta impedir o ingresso de “crianças” abaixo de 14 anos? Se elas acessam a internet e se surpreendem com as obras polêmicas: não veem nada de mais para coibir a liberdade de expressão. Lá presentes uns gatos pingados do travestido MBL, do grupo cristão Templários da Pátria e defensores da monarquia rezando o terço ao passo que outros davam vivas à Polícia Militar e ao Bolsonaro. Energúmenos que, provavelmente, nunca puseram os pés num museu, no máximo, na cafeteria, todos contra o rompimento com a heteronormatividade e a atuação fora das categorias binárias para pensar formas artísticas desviantes e transgressivas, fora da norma canônica. Dentre técnicas diversas, os que mais impressionaram e, ao mesmo tempo, foram alvos de uma sórdida campanha de difamação da arte, “Cruzando Jesus Cristo com Deusa Shiva” (1996), do gaúcho Fernando Baril (impactante), “Cena de interior II” (1994), da renomada Adriana Varejão, e “Travesti da lambada e deusa das águas”, da cearense Bia Leite.