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VALE A PENA TER FAMA?

Emoção e encanto à parte, todos que provaram da fama são unânimes em confessar, mais cedo ou mais tarde, que o preço é caro demais para desfrutar dessa ilusão. Ou são os falsos amigos que se aproximam, circunstancialmente, ou são os amigos verdadeiros que se afastam, desconfiados de como pôde mudar tanto.
O filme de terror: sua imagem que vê refletida no espelho já não pertence a você, mas a uma multidão que não faz a menor ideia de quem seja e que não tem uma cara. Todo mundo tem uma coisa mais a observar sobre sua roupa, seu cabelo, seu peso, seus amantes, e até sobre suas opiniões.
A fama é efêmera, pode ser que passe logo. Também pode ser que não se desfaça nunca, mesmo quando deseja se livrar dela por pesar demais na balança, seja por lhe causar aversão, desprezá-la, odiá-la, por tanto quanto destroçou sua alma no caminho da fama, levado pela ânsia de devorá-la com apetite antes que o encantamento se extinguisse.  
Por outro lado, pode ser que a fama se eternize e você entre para a posteridade. Como haverá de saber? Só em espírito. Pior do que isso é a fama só vir depois de morto quando, em vida, foi um autêntico anônimo, um legítimo desconhecido e invisível no campo da arte, da ciência ou do saber. Ou, então, a fama ser falsa por depender muito pouco do talento do famoso e muito mais de uma série de circunstâncias que estão somente nas mãos de Deus.
Além da fama não satisfazer os anseios mais urgentes daqueles que a alcançam, como ver os filhos crescerem, andar nas ruas incógnito, ir à padaria da esquina ou cortar os cabelos sem que isso se transforme em um evento nacional.
Quando John Lennon abandonou os Beatles ao ter encontrado e casado com Yoko Ono, o casal sofreu perseguição ilegal do governo Nixon por seu apoio formal ao Partido das Panteras Negras e envolvimento com líderes da extrema-esquerda norte-americana. Vencida a ameaça de extradição e conseguido o Green Card, Lennon decidiu afastar-se do show business em 1975 para dedicar-se à criação de seu recém-nascido filho Sean Ono Lennon. Nesse período de isolamento, compôs “Watching the Wheels”, que talvez seja a mais bela canção que expressa o distanciamento da fama e do sucesso fácil, tendo sido lançada somente depois que o cantor foi assassinado em dezembro de 1980.
De preferência, acompanhado pela música, vejam como o genial John Lennon brinca com as palavras e com o exílio que se autoimpôs:
“As pessoas dizem que eu sou maluco por fazer o que estou fazendo / Bem, elas fazem todo tipo de advertência para me salvar do fracasso (da ruína) / Quando eu digo que estou OK, elas me olham como se eu fosse um esquisito / Com certeza, você não está feliz agora que não pode jogar o jogo / As pessoas dizem que eu sou preguiçoso por só haver sonhos em minha vida / Bem, elas me dão todos os tipos de conselhos destinados a me iluminar (aclarar minha mente) /  Quando eu lhes falo que eu estou bem observando sombras na parede / Você não sente falta daquele menino dos grandes tempos que você não é mais? / Eu estou apenas sentado aqui assistindo as rodas darem voltas e voltas / Eu realmente amo vê-las rodarem / Não mais (eu) dirigindo para onde elas vão / Eu apenas tive que deixá-las ir / Ah, as pessoas fazendo perguntas perdidas na confusão / Bem, eu lhes digo que não há problemas, somente soluções / Bem, elas balançam suas cabeças e me olham como se eu tivesse perdido a razão / Eu lhes digo que não há nenhuma pressa / Eu apenas estou sentado aqui perdendo tempo / Eu estou apenas sentado aqui assistindo as rodas darem voltas e voltas / Eu realmente amo vê-las rolarem (rodarem) / Não mais (eu) dirigindo para onde elas vão / Eu apenas tive que deixá-las ir / Eu apenas tive que deixá-las ir”.

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Antonio Carlos Gaio
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