É sempre assim. Quando você está por acertar os ponteiros com alguém, sempre surge outra para mexer contigo e abalar suas convicções, a ponto de obrigá-lo a escolher entre o certo e o incerto.
Se optar pelo incerto e se equivocar, mesmo assim o risco corrido terá valido a pena pelo calor das paixões trocadas e a certeza de não guardar arrependimento em seu coração.
Entretanto, se optar pelo certo, pelo que já é conhecido, restará sempre frustrado e incompleto por ter se recusado a pagar para ver e não dado chance ao azar, sufocando uma oportunidade de ouro que provavelmente o levaria às nuvens.
Se falsa a impressão, como tirar a dúvida? Só montando no cavalo para descobrir se o amor é pangaré ou se é o grande prêmio de sua vida.
Vai que você prova do mel e se decepciona porque ela, apesar de fascinante, não se entrega de todo e não corresponde a tudo que julgou ser o seu potencial. Embora, possuído pela certeza, continue a investir, já que a paixão não admite erros. Ainda mais que o pouco que ela lhe dá é muito, gerando o impasse entre o pouco que pode crescer e o garantido, o qual não transmite a mesma emoção. Ah, prepondera no pouco mais o seu imaginário do que o real! Pouco se me dá se no certo a aparência não estimula a fantasia da transgressão: de colocá-la de quatro no ato!
Apenas assegurar de dispensar atenção e cercar de agrados não são requisitos para tornar eleita a mulher como objeto de suas fantasias masturbatórias. Tem que ser gata, ao mesmo tempo insinuante e sutil, esfomeada, incoerente a ponto de enraivecê-lo e provocar seu desejo. E também parecer que não se importa com o que resultar desse tête-à-tête – o que o enlouquece. Aí o homem não pensa duas vezes; a não ser que fareje armação.
Diante da insegurança que ronda o amor, soa melhor não se arriscar e ficar no come e dorme, fingindo que é feliz com aquela poia, só para não ficar sozinho. Mas é horrível não amar ninguém. Por outro lado, é terrível alguém te infernizar com um amor descontrolado que não proporciona a menor segurança. Não se troca o certo pelo incerto. Não se troca a sedução pelo tédio. Cabe aprofundar no encanto mesmo que perca o chão do que ficar na superfície para não se afogar. É melhor ficar onde dá pé do que se afundar em águas turvas. Para que querer alcançar o céu, se na terra mal põe as mãos no que lhe apetece?
Se mal sabe com quem irá se satisfazer disperso na roda da fortuna.