Fora de cogitação o homem levar a sério a paternidade responsável, livre dos condicionamentos de antepassados nativos do planeta em que evolui. O sangue greco-romano, muçulmano, mongol e viking ainda corre nas veias. O processo civilizatório procurou conter a violência, limitando-a no mais das vezes ao terreno da criminalidade pura e simplesmente, mas foi incapaz de alcançar a crueldade psicológica. Dois mil anos apenas nos separam de Calígula, quando ordenou às esposas dos senadores que se entregassem à sevícia do povo como tributo da insubordinação do Senado à tirania do imperador.
De lá para cá, elas estão cobrando essa conta salgada pendurada no dilaceramento de seu amor-próprio e dignidade de mãe de seus filhos. Fecharam o caixão desse Neandertal que teima em não abrir os olhos, que passa por cima como um rolo compressor quando se trata de pensão alimentícia.
Nas últimas décadas, a vasectomia vem sendo utilizada como artifício para não engravidar mulheres exploradoras que aplicam o golpe da barriga. O objetivo é não jogar contra o seu patrimônio, pouco importa se rico ou remediado, tamanha a pobreza de espírito. Posto que de saúde ele não se ocupa, senão o preservativo já teria aposentado a vasectomia. O homem tem um passado que o condena quanto às doenças venéreas, era um agente eficaz na transmissão até surgir a Aids. E quantas mais? Sífilis, gonorréia, cancro, herpes, chato… Ao não tomar as mínimas precauções, dá a perfeita medida da importância que confere ao sexo e, em última instância, ao amor. Suja na entrada o que de belo deve resultar na saída. Sua capacidade de estrago não poupa a mulher. Se fizesse sexo com ele mesmo, valeria a autopreservação.
O homem ainda teme a vasectomia, apesar de reversível, porque confunde infertilidade com impotência. Ademais, não gostaria de se mostrar castrado para a procriação, se de repente aparecesse, à sua frente, uma princesa encantada. Não gostaria de falhar, muito embora não queira ter filhos nem sequer casar. Não gostaria de quebrar o encanto da fantasia que ela alimenta, pois o gozo está na crença dela em construir uma vida com ele – o faz mais digno. Por outro lado, não admite reverter uma vasectomia, pois isso implicaria em firmar o compromisso de constituir família com ela. Na verdade, pretende deixar ela no ar. Em suspenso.
A vasectomia libera o homem e o potencializa como um deus sexual. Chegam a armar uma tenda para se sentirem sultões em meio a um harém e fazer jus às suas mil e uma noites. Nota-se um abuso crescente do artifício para evitar que a procriação desvirtue o prazer, atrapalhe a orgia e jogue água no chope. Dando margem a que zés-ninguém, em busca de reafirmação, se criem, ao se jactarem de vagabunda nenhuma tirar proveito de suas parcas poupanças. Quando, na verdade, escondem a vergonha de perpetuar a sua espécie e gerar descendentes com a sua cara.
O receio do homem se engajar num relacionamento é o de ele se apequenar, ao perder espaço e escapar de suas mãos o prestígio de se dar bem sempre, visto crer no mito em que se converteu. Não é só imaginação. De fato, se transformou num pesadelo no qual tenta encontrar o seu lugar num mundo que ficou muito grande para o seu tamanho. Despertando para a pior realidade que o homem tem de enfrentar: tamanho não é documento.
O pequeno grande homem não consegue se desvencilhar do dilema entre o tamanho do pênis em repouso e o Homus Erectus, ignorando que o prazer feminino depende do clima, grau de excitação e habilidade do parceiro. A insatisfação deriva do desejo de possuir um pênis maior por comparações com outros avantajados que viraram lenda na boca de amigos.
Tantos malabarismos o distanciam de sua dimensão espiritual. Sua consciência se torna estranha a si mesmo, afastando-o de sua real natureza. A caminho de uma credibilidade amarfanhada diante dos avanços autofágicos do ser irracional sobre a carcaça do ser racional, outrora orgulhosamente construído, à custa de muito arrojo, iniciativa e inteligência. Recomenda-se um recall da fábrica.