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VOCÊ ME ATRAPALHA

Quando ela recuou, não encontrou chão e rolou escadaria abaixo, levando consigo a bandeja que carregava e esparramando pratos feitos, fumegando, que se encharcaram com bebidas e gelo que os acompanhavam. O olhar dele fulminou a garçonete e o mundo começou a rodar. Olhar invasivo, mas sem abusar. Tão incisivo que desnorteou a recém-chegada à cidade com um sonho: ser enfermeira. De jaleco, o médico a impressionou com seu olhar doce, mas persistente, que não alivia, embora não dê um passo em falso. Demolidor, faz com que elas se mexam em sua direção, sem ele mover uma palha ou dizer um ai. Cuida bem de corações frágeis porque massageia o ego de mulheres cuja alma os homens costumam não entender. Quando ela se levantou, limpando do vexame, disparou: “Você me atrapalha!”.

Categories: Croniquetas
Antonio Carlos Gaio:
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