Wally Salomão virou filme. Visto como maluco por falar o tempo todo e transformar a vida num palco iluminado. Não é verdade: era inteligência pura guiada pela subversão, que se vale de poesia e liberdade originais, para restabelecer a inocência que perdemos gradativamente, à medida que supostamente amadurecemos. Fronteiriço, por se entregar totalmente à arte e ao desenvolvimento do espírito humano, com doses cavalares de generosidade. Não é verdade: as condições mentais ou emocionais de um ser humano excepcional estão próximas da linha divisória entre o que se considera normal e anormal. Wally Salomão ficou decepcionado quando os médicos abriram sua barriga e constataram uma metástase, que o consumiu em 2 semanas, após Gil convocá-lo para o Ministério da Cultura, em 2003. Ainda havia muito por fazer como poeta, ensaísta, agitador, produtor cultural e compositor – fez parcerias com Jards Macalé, Caetano e outros. Por que retirar de nosso convívio, tão precocemente, uma figura humana que se comunicava em versos mais do que publicava e agitava mais do que compunha? Se precisamos tanto de quem nos anime e torne suave o fardo de acontecimentos e situações que não compreendemos.