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ZOILOAMÉRICA

Ele a fez crer que sua estabilidade emocional, no cumprimento de seus deveres para com a História e fazer valer o destino da revolução e da pátria, passavam pela satisfação de seu desejo sexual.
– Você já está pronta.
Consumou a primeira violação de sua enteada quando tinha 34 anos e ela, 15; mas, desde os 11, ela já era molestada e sofria abuso, em seus sentimentos mais puros, de seu dono e senhor, que tentava acostumá-la ao sofrimento com a falácia de que felicidade não existe.
– Você deve aprender a viver com o que lhe dou. Verás que com o tempo irás gostar.
Em tempos de ideais postos à prova e de fúria libertária, sua mãe menosprezava seus lamentos, atribuindo-os ao desejo de competir com ela e chamar a atenção do padrasto.
Ele a tratou pior do que a um travesti, quando um homem se rende ao amor gay e se revolta por não admitir. Seu atrevimento não respeitava nem a Casa do Governo; impôs à sua cria que, no papel de preencher a incompletude que gera excitação, contribuiria com a revolução. Foi-lhe negado o direito de existir com sua própria personalidade, mantida como objeto de outro ser. À mercê da entrada de terceiros no crime.
Os padres sandinistas aconselharam a ela resignação cristã, no interesse da tranqüilidade espiritual do comandante e de sua sagrada missão. A Justiça da Nicarágua se negou a aceitar a denúncia, obrigando Zoiloamérica a recorrer à Comissão de Direitos Humanos, em Washington.
À revolução aplaudida quando derrubou o ditador Somoza, mal sucedeu o autoritarismo institucional, corruptor sexual que revela a sordidez da condição humana. O poder inebria e judia da razão. Ortega nunca a viu como filha. Revoluções não se afinam com a reforma da sexualidade.
Dificilmente Zoiloamérica esquecerá os passos de Ortega, do corredor até seu quarto.

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Antonio Carlos Gaio
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